Um dos primeiros medicamentos brasileiros é a Tríaga Brasílica e teve sua origem no período colonial. Trata-se de uma receita baseada em plantas, animais e outras substâncias, como minerais e óleos, classificada como “panaceia” por sua capacidade de tratar diversas doenças. Inegavelmente, trata-se de uma adaptação da tríaga magna europeia, registrada pelos Jesuítas no século XVIII .
Avanços Científicos no Século XX
Em 1949, o farmacologista Sérgio Henrique Ferreira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), fez uma descoberta significativa ao estudar o veneno da jararaca. Dessa maneira, ele identificou um inibidor da enzima conversora de angiotensina I, o qual se tornaria o princípio ativo do medicamento Captopril, cuja patente é detida pela Bristol-Myers Squibb.
Desenvolvimento de Medicamentos Brasileiros para Doenças Negligenciadas
Contudo, embora o Brasil sofra com a prevalência de doenças negligenciadas e o baixo investimento em desenvolvimento de medicamentos, houve avanços notáveis. Um exemplo é o ASMQ, um medicamento antimalárico desenvolvido pelo Instituto Farmanguinhos da Fiocruz, em parceria com a organização DNDi e produzido pela Cipla. Ainda que registrado no Brasil em 2008, o ASMQ é reconhecido mundialmente e certificado por diversas entidades reguladoras, incluindo a OMS, FDA dos EUA e MHRA do Reino Unido.
Inovações Recentes e Colaborações
Outro destaque é o Vonau flash, desenvolvido pelo professor e farmacêutico Humberto Gomes Ferraz, com apoio da Farmacêutica Biolab, a qual detém parte da patente e os direitos exclusivos de comercialização. Em suma, este medicamento foi uma inovação da ondansetrona, tornando-se mais acessível e, até 2019, o Vonau flash era responsável por 90% dos royalties recebidos pela USP .
A trajetória do desenvolvimento de medicamentos no Brasil revela uma necessidade constante de investimento de empresas privadas, frequentemente estrangeiras, para custear o processo de criação e fabricação. Em síntese, se destaca a ausência de um medicamento completamente desenvolvido no país, desde a descoberta até a produção e comercialização.
Desafios no Financiamento e Produção, além da necessidade de investimento
Em uma entrevista à Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) em 2019, Dr. Gláucius Oliva, professor da USP e ex-presidente do CNPq, afirmou que o Brasil evoluiu no mercado farmacêutico, mas ainda depende de ativos e insumos importados. Ele destacou a necessidade de apoio financeiro, exemplificando que uma única empresa pode investir até 20 bilhões em P&D, enquanto o Brasil investiu apenas 330 milhões no financiamento de bolsas do CNPq em 2019 sendo que o orçamento total do Ministério da Ciência e Tecnologia foi de R$ 2,9 bilhões .
Portanto, é evidente que o Brasil possui um grande potencial na ciência e no desenvolvimento de medicamentos, mas enfrenta desafios significativos devido ao baixo investimento. Antes de tudo, para impulsionar a indústria farmacêutica brasileira, é essencial aumentar os investimentos na pesquisa e promover parcerias entre instituições públicas e empresas privadas.
Para maiores informações, consulte:
- Dos Santos, F. S. Indígenas, Jesuítas e a Farmacopéia Verde das Terras Brasileiras: Os Segredos da Triaga Brasílica. Prometeica, 2013.
- Melo, G. B. T., et al. Evolution of research funding for neglected tropical diseases in Brazil, 2004–2020. PLoS Negl. Trop. Dis., 2023.
- Santos, F. S. D. dos. Tradições populares de uso de plantas medicinais na Amazônia. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2000.
- Martins-Melo, F. R., et al. The burden of Neglected Tropical Diseases in Brazil, 1990-2016: A subnational analysis from the Global Burden of Disease Study 2016. PLoS Negl. Trop. Dis., 2018.
- Estanislau, J., Sousa, G. C., & Momento Tecnologia #24: Medicamentos desenvolvidos na USP são comercializados mundialmente. Jornal da USP, 2020.
- Arrudas, M. Sabia que um remédio para enjoo traz 90% dos royalties que a USP recebe? Acontece na USP, 2019.